Semanário angolano Novo Jornal disputado por irmãos Álvaro Sobrinho e Emanuel Madaleno. Diretor alvo de campanha online
Futuro incerto para um dos principais jornais angolanos
O Novo Jornal (NJ), semanário angolano e uma das principais marcas jornalísticas não tuteladas pelo Estado, está no centro de uma guerra de poder envolvendo os irmãos Álvaro Sobrinho e Emanuel Madaleno. Os empresários disputam na justiça a titularidade da publicação, propriedade da sociedade Tolerância S. A. do grupo Nova Vaga S. A.
A 22 de dezembro, supostamente na sequência de uma providência cautelar do Tribunal Provincial de Luanda, interposta por Sobrinho, cerca de 40 indivíduos terão entrado nas instalações do NJ, na capital do país, com o presumível objetivo de levar consigo computadores e servidores da redação.
Em comunicado publicado na edição de 12 de janeiro, Renato Moreira, CEO da Nova Vaga, confirma a existência da medida cautelar, mas esclarece que esta apenas “suspende Emanuel Madaleno do exercício das funções de governação nas sociedades Wyde Capital S. A. e New Media Angola Lda.”, sem qualquer referência a uma eventual atribuição a “Álvaro Sobrinho [de] quaisquer direitos ou competências na governação ou direção do título jornalístico Novo Jornal, nem a propriedade desse título é transferida para quem quer que seja”.
Renato Moreira classifica a “invasão às instalações e ameaças aos colaboradores” de “vil e preocupante sinal para a liberdade de imprensa” em Angola, demonstrativo da vulnerabilidade da profissão de jornalista.
“Foi um claro atendado à liberdade de imprensa”, reforça o CEO.
Em entrevista na última semana (11/01) à alemã DW, Álvaro Sobrinho acusou o irmão, Emanuel Moreno, de “abuso de confiança”, dizendo-se dono do jornal, que garante ter adquirido ao Grupo Espírito Santo através da Wyde Capital, detida em 70% pela New Media.
Diretor alvo de campanha online
Poucos dias após a invasão à redação, Armindo Laureano (12/01), diretor do NJ desde 2020, classificou o caso de “repugnante” e uma tentativa de “asfixiar” a publicação.
Em sentido contrário, e através de comunicado de imprensa veiculado a 5 de janeiro, a Entidade Reguladora da Comunicação Social Angolana avalia como “pura especulação e tentativa de manipulação da opinião pública” a “menção a supostas intenções de cerceamento à liberdade de imprensa”.
Na sequência dos acontecimentos das últimas semanas, Laureano tornou-se alvo de campanhas online, com veiculação de ‘informações’ a seu respeito - que o mesmo classifica de falsas - a serem partilhadas em grupos de WhatsApp e sites que se fazem passar por órgãos de comunicação social, mas que não estão registados como tal, nem cumprem os requisitos legais para o efeito. As ‘informações’ veiculadas acusam o jornalista de ser agente da BRINDE (Brigada Nacional de Defesa - antigo serviço de inteligência da UNITA, maior partido da oposição de Angola) e de ter fugido do país. Laureano também é acusado de “gastar rios de dinheiro” com uma suposta amante sul-africana.
No editorial que acompanha a última edição impressa do Novo Jornal, o diretor questiona: “como é que nos estamos a tornar o país da desinformação aos olhos de todos?”, numa alusão a “sites, jornais digitais, perfis de Facebook e grupos de Whatsapp” que “surgem todos os dias como cogumelos” no espaço mediático angolano, perante a aparente inação das autoridades.
Armindo Laureano acredita que estes canais fazem parte de “estruturas bem organizadas”, apostadas em atacar “adversários, inimigos, oponentes”.
“Existe um perigoso negócio da desinformação a crescer aos olhos de todos e a seguir impunemente o seu caminho, perante o silêncio, inércia ou, quiçá, conivência de quem de direito”, avisa.
O Novo Jornal foi fundado em 2008. O Grupo Nova Vaga edita, além do NJ, o jornal Expansão, especializado em economia.